segunda-feira, 27 de junho de 2011

[Do conceito à implantação]

Conceito para a vila de habitação social:

O principal intuito do projeto para uma vila de habitação social não é só a busca por uma melhor configuração de unidade ou modelo habitacional (sistema de habitação), mas, principalmente, a preocupação em dar ao morador a sensação de pertencer ao espaço, da transformação de usuário a morador. O principal foco do projeto é então a relação entre moradia/morador e o espaço coletivo, público.

Acredito que a carência de uma moradia própria – que tenha as características e identidade de seu habitante – se reflita no ambiente externo quando se trata de um conjunto de habitação popular. Como já observado em outros conjuntos habitacionais, há uma necessidade do morador de dar o seu “toque”, sua identidade ao espaço próximo à sua habitação, seja na porta da frente de casa ou no pequeno espaço ajardinado que contorna sua habitação, para que se sinta pertencente àquele espaço, para que o chame de lar. A vila deve então permitir/instigar (e não inibir) o morador a intervir no espaço e nos elementos previamente pensados.

“Um ‘ninho seguro’ – um espaço conhecido à nossa volta, onde sabemos que nossas coisas estão seguras e onde podermos nos concentrar sem sermos perturbados pelos outros – é algo que cada indivíduo precisa tanto quanto o grupo. Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. Se você não tem um lugar que possa chamar de seu, você não sabe onde está!”
[Herman Hertzberger – Lições de Arquitetura]

Além da intenção de dar ao morador a qualidade de lar (de pertencer ao espaço), o diálogo entre o amplo espaço externo da vila (pátio, circulações, entre outros espaços públicos da vila) e o reduzido espaço interno da habitação é essencial, pois garante qualidade espacial à habitação social. O espaço interno, cuja dimensão reduzida é imanente ao conceito habitação social, deve buscar “suporte espacial” no externo, relacionando-se com este, havendo uma troca espacial: o espaço externo amplia e qualifica o interno, enquanto que este intensifica a vivência no espaço externo dando melhor tratamento, qualidade e utilidade a este.

Assim, a imagem seriada e rígida do sistema habitacional ganha qualidade quando inserida num ambiente confortável e acolhedor que dá ao morador a possibilidade de contribuir para a formação de seu espaço. À medida que o morador se sente pertencente àquele espaço ele contribui para a sua manutenção, já que não é há a dissociação perceptível entre espaço coletivo/público e particular.

Aplicação/implantação:

Relação dos espaços: espaço da vila(coletivo) x espaço habitacional(privado)

Inicialmente, as unidades se dividem em dois grupos de habitações onde configuram seus respectivos pátios internos. Os pátios têm sua conformação paisagística (pisos, níveis, muretas, vegetação) de modo a proporcionar ambientes dinâmicos para usos diferenciados – deste a simples acomodação para descanso/ócio à interação entre a comunidade, morador e transeunte. São interligados por caminhos menores e estes, por sua vez, dão continuidade ao passeio convidando o pedestre a cruzar/interagir pelo interior da vila. [permeabilidade]

Próximo a cada unidade de habitação há um espaço público passível de interação/apropriação. Nas habitações térreas, um banco se escora numa parede parcialmente vazada por blocos de concreto. Ali, o morador é convidado a intervir da maneira que lhe convier (pendurar um vaso, desenhos/grafites, pastilhas/mosaicos, colocar objetos). Os bancos, também presentes em frente às habitações do primeiro pavimento, proporcionam a simples interação de sentar e receber os convidados/vizinhos, o que já basta para trata-lo como seu.

detalhe do "intervalo" (banco) no acesso da habitação

Ainda nas unidades térreas, uma das faces da habitação (onde abriga a sala) pode se abrir (total ou parcialmente) para o exterior/pátio interno através das portas de enrolar [ver os posts relacionados aos módulos/sistema de habitação]. Além de ampliar o espaço, o abre e fecha das portas de enrolar dá dinamismo ao ambiente da vila e a fachada das unidades, além de comunicar a vontade de interação entre seus habitantes. Contudo, não há uma relação direta entre o habitante e o transeunte, pois há uma diferença de níveis e a presença de uma pequena mureta. Assim, a interação pode existir ou não (dependendo da intenção do morador) entre o morador e o passante/ vizinho. Este espaço (entre porta de enrolar e mureta) é, ao mesmo tempo, extensão da casa e meio de comunicação (ou não) com o pátio, é elemento de transição entre espaço público e privado, entre comunicação e reclusão.

corte esquemático de relação entre espaços

A mureta também se configura como elemento que dá ao morador a possibilidade de interação para a formação do ambiente da vila. Na mureta, podem ser plantadas diferentes espécies de arbustos e plantas bem como subir e dar continuidade à mureta verticalmente (até determinada altura), dependendo do tipo de relação que seu morador deseja com o ambiente externo (reclusão, comunicação total ou parcial). Assim, não fica obrigatório/forçado uma relação entre morador e transeunte entre habitação e pátio, pois penso que deve ser respeitado suas intenções e particularidades para com o morador da habitação.

Os elementos de circulação da vila (sejam eles horizontais ou verticais) ultrapassam a função do deslocamento entre espaços, sua proximidade com as entradas da habitação ou com bancos sugere, nesse intervalo, um espaço de ócio e de relação entre vizinhos, ampliam os espaços (e suas carências espaciais) da casa, configuram elementos que de interação e comunicação.

O projeto para o espaço da vila tem este aspecto inacabado, tanto no paisagismo como nos materiais, mas é intencional, pois convida os moradores a configurar o ambiente/paisagem da vila, a dar sua característica e identidade ao espaço e, principalmente, a dar qualidade de lar à vila (coisa que não cabe a um projeto racional de arquitetura realizar).

Implantação:


Implantação - planta pav. térreo

Os recuos, bem como os limites da vila, se dão pela presença ora do comércio, ora das vagas de estacionamento. O comércio ficou voltado para a Avenida Afonso Pena, por ser mais movimentada e com maior concentração comercial. Já os estacionamentos margeiam as ruas São Francisco e Natal, menos movimentadas.

Implantação - planta primeiro pavimento

Implantação

cortes

- Estacionamento - piso-grama (permeabilidade do solo)

- Limite - comércio e portões para garagens

- Permeabilidade de acesso aos pedestres

- Níveis - ambiências e relações

- Canteiros/muretas - intervenção do morador na paisagem/no ambiente

- Bancos e pequenos ambientes próximos à cada habitação: apropriação privada no espaço público

- Circulação (habitação e pátio interno) - ampliação e multifuncionalidade dos espaços


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