quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Midna


As cidades

e as Lendas


Talvez – em algum lugar tenebroso e bem escondido de um cais – você dê a sorte de ouvir histórias sobre Midna que escapam da boca de velhos marinheiros embriagados. Por mais ébrias que pareçam, suas lendas dirão que sua localização é incerta, que a cidade move-se constantemente pelo oceano arraigada a alguma criatura marítima lendária. Mas uma coisa é certa: quando se avista Midna, ao longe, a impressão que se tem é quase ilusória, como ver um cemitério de navios naufragados meio ao mar aberto dar forma à cidade.
Como longos mastros despontados da água marinha, infindáveis estacas de madeira emergem e desenham toda Midna: erigem pequenas casas, escoram escadas, suspendem tortuosas plataformas de madeira que rangem às passadas mais cautelosas, estendem efêmeras tendas aos comerciantes, costuram longas tramas de cordas sob a forma de passarelas improvisadas, seguram tochas ao ar e amarram pequenos barcos junto à água; enquanto as mais variadas espécies de corais – como insistentes parasitas – escalam lentamente a madeira enrugada e, aos poucos, cromatizam a pacata cidade.
À baixa-mar, contudo, o segredo de Midna se revela: desvela o grande atol que serpenteia e apruma toda a cidade que, então, parece mover-se lentamente à medida que a maré dobra-se e quebra-se vagarosamente ao traspassar a grande borda coralínea: sua lendária criatura marinha.

Guilherme V. Cuoghi, autor.

Meteora

As cidades

e os Destinos


Os poucos que já estiveram em Meteora não arriscam indicar uma possível direção para que se chegue até ela. Meteora não é uma dessas cidades que, por terra, logo se  avista ao horizonte. É fruto do acaso. De um encontro repentino, que jamais se esquece:
Enquanto se caminha pela floresta densa, basta um escorregão para que os cascalhos deslizem e desviem o olhar para dentro da profunda cratera onde se instala Meteora. Dalí, o olhar dificilmente consegue chegar ao solo: corre por ruas suspensas no ar que se libertam do solo para tocar a parte mais alta de seus grandes edifícios, parecendo sustenta-los como gotas de orvalho que se equilibram em folhas longilíneas almejando tocar o chão; vislumbra, em um dos bordos da cratera, uma grande cachoeira flutuar e pousar lentamente por de trás de um grande templo que contempla sua chegada à base do rio; descobre grandes lâminas de edifícios que se escoram nas linhas dos barrancos que formam a cratera; e, finalmente, retoma a superfície onde, timidamente, vê a estreita ponte – que liga as duas partes da floresta acima – depositar-se sorrateiramente sobre grandes torres centrais onde transpiram os elevadores que levam o visitante aos diferentes patamares da cidade.
Em Meteora o solo é quase intocado, seus habitantes o contemplam e o utilizam como local sagrado. Mas ainda há muitas incertezas e  indagações sobre essa cidade e os que nela habitam. Pouco se sabe sobre sua origem. O que dizem seus habitantes mais antigos, é que ela é um fragmento de uma cidade que existia em um pedaço de meteoro que colidira com a terra… que é fruto do acaso.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

[perspectivas]






[Do conceito à implantação]

Conceito para a vila de habitação social:

O principal intuito do projeto para uma vila de habitação social não é só a busca por uma melhor configuração de unidade ou modelo habitacional (sistema de habitação), mas, principalmente, a preocupação em dar ao morador a sensação de pertencer ao espaço, da transformação de usuário a morador. O principal foco do projeto é então a relação entre moradia/morador e o espaço coletivo, público.

Acredito que a carência de uma moradia própria – que tenha as características e identidade de seu habitante – se reflita no ambiente externo quando se trata de um conjunto de habitação popular. Como já observado em outros conjuntos habitacionais, há uma necessidade do morador de dar o seu “toque”, sua identidade ao espaço próximo à sua habitação, seja na porta da frente de casa ou no pequeno espaço ajardinado que contorna sua habitação, para que se sinta pertencente àquele espaço, para que o chame de lar. A vila deve então permitir/instigar (e não inibir) o morador a intervir no espaço e nos elementos previamente pensados.

“Um ‘ninho seguro’ – um espaço conhecido à nossa volta, onde sabemos que nossas coisas estão seguras e onde podermos nos concentrar sem sermos perturbados pelos outros – é algo que cada indivíduo precisa tanto quanto o grupo. Sem isso, não pode haver colaboração com os outros. Se você não tem um lugar que possa chamar de seu, você não sabe onde está!”
[Herman Hertzberger – Lições de Arquitetura]

Além da intenção de dar ao morador a qualidade de lar (de pertencer ao espaço), o diálogo entre o amplo espaço externo da vila (pátio, circulações, entre outros espaços públicos da vila) e o reduzido espaço interno da habitação é essencial, pois garante qualidade espacial à habitação social. O espaço interno, cuja dimensão reduzida é imanente ao conceito habitação social, deve buscar “suporte espacial” no externo, relacionando-se com este, havendo uma troca espacial: o espaço externo amplia e qualifica o interno, enquanto que este intensifica a vivência no espaço externo dando melhor tratamento, qualidade e utilidade a este.

Assim, a imagem seriada e rígida do sistema habitacional ganha qualidade quando inserida num ambiente confortável e acolhedor que dá ao morador a possibilidade de contribuir para a formação de seu espaço. À medida que o morador se sente pertencente àquele espaço ele contribui para a sua manutenção, já que não é há a dissociação perceptível entre espaço coletivo/público e particular.

Aplicação/implantação:

Relação dos espaços: espaço da vila(coletivo) x espaço habitacional(privado)

Inicialmente, as unidades se dividem em dois grupos de habitações onde configuram seus respectivos pátios internos. Os pátios têm sua conformação paisagística (pisos, níveis, muretas, vegetação) de modo a proporcionar ambientes dinâmicos para usos diferenciados – deste a simples acomodação para descanso/ócio à interação entre a comunidade, morador e transeunte. São interligados por caminhos menores e estes, por sua vez, dão continuidade ao passeio convidando o pedestre a cruzar/interagir pelo interior da vila. [permeabilidade]

Próximo a cada unidade de habitação há um espaço público passível de interação/apropriação. Nas habitações térreas, um banco se escora numa parede parcialmente vazada por blocos de concreto. Ali, o morador é convidado a intervir da maneira que lhe convier (pendurar um vaso, desenhos/grafites, pastilhas/mosaicos, colocar objetos). Os bancos, também presentes em frente às habitações do primeiro pavimento, proporcionam a simples interação de sentar e receber os convidados/vizinhos, o que já basta para trata-lo como seu.

detalhe do "intervalo" (banco) no acesso da habitação

Ainda nas unidades térreas, uma das faces da habitação (onde abriga a sala) pode se abrir (total ou parcialmente) para o exterior/pátio interno através das portas de enrolar [ver os posts relacionados aos módulos/sistema de habitação]. Além de ampliar o espaço, o abre e fecha das portas de enrolar dá dinamismo ao ambiente da vila e a fachada das unidades, além de comunicar a vontade de interação entre seus habitantes. Contudo, não há uma relação direta entre o habitante e o transeunte, pois há uma diferença de níveis e a presença de uma pequena mureta. Assim, a interação pode existir ou não (dependendo da intenção do morador) entre o morador e o passante/ vizinho. Este espaço (entre porta de enrolar e mureta) é, ao mesmo tempo, extensão da casa e meio de comunicação (ou não) com o pátio, é elemento de transição entre espaço público e privado, entre comunicação e reclusão.

corte esquemático de relação entre espaços

A mureta também se configura como elemento que dá ao morador a possibilidade de interação para a formação do ambiente da vila. Na mureta, podem ser plantadas diferentes espécies de arbustos e plantas bem como subir e dar continuidade à mureta verticalmente (até determinada altura), dependendo do tipo de relação que seu morador deseja com o ambiente externo (reclusão, comunicação total ou parcial). Assim, não fica obrigatório/forçado uma relação entre morador e transeunte entre habitação e pátio, pois penso que deve ser respeitado suas intenções e particularidades para com o morador da habitação.

Os elementos de circulação da vila (sejam eles horizontais ou verticais) ultrapassam a função do deslocamento entre espaços, sua proximidade com as entradas da habitação ou com bancos sugere, nesse intervalo, um espaço de ócio e de relação entre vizinhos, ampliam os espaços (e suas carências espaciais) da casa, configuram elementos que de interação e comunicação.

O projeto para o espaço da vila tem este aspecto inacabado, tanto no paisagismo como nos materiais, mas é intencional, pois convida os moradores a configurar o ambiente/paisagem da vila, a dar sua característica e identidade ao espaço e, principalmente, a dar qualidade de lar à vila (coisa que não cabe a um projeto racional de arquitetura realizar).

Implantação:


Implantação - planta pav. térreo

Os recuos, bem como os limites da vila, se dão pela presença ora do comércio, ora das vagas de estacionamento. O comércio ficou voltado para a Avenida Afonso Pena, por ser mais movimentada e com maior concentração comercial. Já os estacionamentos margeiam as ruas São Francisco e Natal, menos movimentadas.

Implantação - planta primeiro pavimento

Implantação

cortes

- Estacionamento - piso-grama (permeabilidade do solo)

- Limite - comércio e portões para garagens

- Permeabilidade de acesso aos pedestres

- Níveis - ambiências e relações

- Canteiros/muretas - intervenção do morador na paisagem/no ambiente

- Bancos e pequenos ambientes próximos à cada habitação: apropriação privada no espaço público

- Circulação (habitação e pátio interno) - ampliação e multifuncionalidade dos espaços


[Unidades]


O módulo que gera as demais unidades habitacionais é simples e único. Possui dimensões de 3.3m por 4.4m. Possui estruturas metálicas em perfil "I" e "H" que estruturam a caixa como um todo: cobertura, piso, pilar, vedação...

Os painéis de vedação tem dimensões de 1,1m de largura por 2,70m de altura, possuem uma estrutura de alumínio (ou madeira) interna subdividida em seções de 1,1m x 0,9m. A partir dessa estrutura é possível colocar diferentes materiais em sua parte interna e externa, além de dar a possibilidade de posicionar a janela em 3 diferentes altura (0,00m; 0,9m e 1,8m).

painel - perspectiva explodida

Em uma das faces das "caixas de habitar" há uma porta de enrolar metálica perfurada. Tal porta amplia o espaço interno (reduzido) para a área externa ampliando o espaço. Comunica e dá dinamismo à fachada.

Unidades:






Superior e inferior: unifamiliar

superior: dinks + solteiro. Inferior: dinks + solteiro


superior: unifamiliar. Inferior: comércio e solteiro.



[Análise do Terreno]


O terreno proposto para a instalação da Vila de Habitação de interesse Social fica localizado próximo à região central da cidade de Uberlândia - MG. O terreno fica localizado entre as ruas Natal e São Salvador e com a Avenida Afonso Pena. A testada nordeste (rua Natal) tem dimensão aproximada de 37m, a sudeste 80m e a sudoeste de 45m, a área total do terreno é, aproximadamente, 3.280m². Possui pouca inclinação, sendo desprezível.
A área é classificada como Zona mista. Seu entorno é constituído, em maioria, por residencias mas há a presença de comércio. O comércio (e, portanto, o tráfego de veículos) tem concentração intensa na Av. Afonso Pena e nas avenidas paralelas à essa (Av. Floriano Peixoto e Av. João Pinheiro).

quarta-feira, 8 de junho de 2011

[implantação]

Implantação Layout 1 - pavimento térreo

Implantação Layout 1 - pavimento superior

corte


Implantação - layout 2



Tipologia: superior - familiar; inferior - comércio + solteiro